quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Meus queridos

Rendo-me novamente ao talento e a arte de Lya Luft para descrever sentimentos, e faço delas minhas palavras para comunicar minha mudança de São Paulo.
Vou para Cunha, uma pequena cidade entre as serras da Mantiqueira, Mar e Caracangalha, refúgio de ceramistas e gente ocupada com o outro, consigo, com a natureza e com o espírito.
Levar uma vida simples, com tempo para meditar, rir, sentir, cuidar, conversar, conviver, apreciar, aprender e praticar!
Terei um atelier para brincar de fazer arte, muita arte! Lugar para plantar e colher.
Com vista para as montanhas, a casa azul tem janelas brancas, é pequena e modesta, mas com quarto de hóspedes para todos vocês! O email é o mesmo e aviso logo o número do novo telefone: VOU ADORAR RECEBÊ-LOS LÁ!
Engraçadinha, Cloé e Morgana vão comigo. Três gatas herdadas de minhas filhas que já me acompanham há alguns anos. Vão as orquídeas, as plantas da Carola e as minhas. Os livros também, mas serão oferecidos à comunidade. Talvez um Clube de Leitura, ideia de uma querida amiga Iara, que assim como outras, está me dando a maior força.
Sou especialmente grata às queridas Helô, Manuela , Iara L. , Pat, Nuncia, Tai, Lucia, Raquel, Regina, Ebe , Iara S., Carolina C., Ana , Lalada , Romilda, Cleide, Alzirinha, Vera M., Cyro, Carminha, Moacyr , Theda, Sr.Rocha, que vêm percorrendo comigo esse trecho do caminho...
Helô, arquiteta e artista, praticamente alugou a casa, propôs o projeto da reforma e continua alavancando a obra, física e emocionalmente!
Manuela caminha ao lado, disposta, incansável, encaixotou metade da casa e será minha sócia na "Casa das Arteiras".
Nuncia, heróica, enfrenta os sobe e desce da serra e da minha alma, às vezes à cem por hora.
Romi, ouvinte atenta, e sábia conselheira.
Priminha Lúcia com carinho e atenção constantes.
Coube ao Sr. Rocha as doses de bom senso, praticidade e coragem.
E de minha querida irmã carioca-lusitana, Iara, dispuz e disponho do seu colo, estímulo e ouvidos para todas as horas.
Mas de todos esses amigos queridos, e de outros que não citei, absolutamente de todos, recebo continuamente amor e apoio incondicional. É chavão, mas confesso: sem o quê, este passo não seria possível!
Com todo meu amor e gratidão, passo a palavra à Lya Luft:

“A idade e a mudança”

Mês passado participei de um evento sobre o Dia da Mulher. Era um bate-papo com uma platéia composta de umas 250 mulheres de todas as raças, credos e idades. E por falar em idade, lá pelas tantas, fui questionada sobre a minha e, como não me envergonho dela, respondi. Foi um momento inesquecível... A platéia inteira fez um 'oooohh' de descrédito. Aí fiquei pensando: 'pô, estou neste auditório há quase uma hora exibindo minha inteligência, e a única coisa que provocou uma reação calorosa da mulherada foi o fato de eu não aparentar a idade que tenho? Onde é que nós estamos?' Onde não sei, mas estamos correndo atrás de algo caquético chamado 'juventude eterna'. Estão todos em busca da reversão do tempo. Acho ótimo, porque decrepitude também não é meu sonho de consumo, mas cirurgias estéticas não dão conta desse assunto sózinhas. Há um outro truque que faz com que continuemos a ser chamadas de senhoritas mesmo em idade avançada. A fonte da juventude chama-se "mudança". De fato, quem é escravo da repetição está condenado a virar cadáver antes da hora. A única maneira de ser idoso sem envelhecer é não se opor a novos comportamentos, é ter disposição para guinadas. Eu pretendo morrer jovem aos 120 anos. Mudança, o que vem a ser tal coisa? Minha mãe recentemente mudou do apartamento enorme em que morou a vida toda para um bem menorzinho. Teve que vender e doar mais da metade dos móveis e tranqueiras, que havia guardado e, mesmo tendo feito isso com certa dor, ao conquistar uma vida mais compacta e simplificada, rejuvenesceu.
Uma amiga casada há 38 anos cansou das galinhagens do marido e o mandou passear, sem temer ficar sozinha aos 65 anos. Rejuvenesceu. Uma outra cansou da pauleira urbana e trocou um baita emprego por um não tão bom, só que em Florianópolis, onde ela vai à praia sempre que tem sol. Rejuvenesceu. Toda mudança cobra um alto preço emocional. Antes de se tomar uma decisão difícil, e durante a tomada, chora-se muito, os questionamentos são inúmeros, a vida se desestabiliza. Mas então chega o depois, a coisa feita, e aí a recompensa fica escancarada na face. Mudanças fazem milagres por nossos olhos, e é no olhar que se percebe a tal juventude eterna. Um olhar opaco pode ser puxado e repuxado por um cirurgião a ponto de as rugas sumirem, só que continuará opaco porque não existe plástica que resgate seu brilho. Quem dá brilho ao olhar é a vida que a gente optou por levar. Olhe-se no espelho...

Lya Luft, (escritora gaucha)

Recebi esta mensagem da minha amiga Gilda Telles, e lhe pedi autorização para publicá-la no meu blog. Fica aqui registrado o meu afecto.

Beijos saudosos,

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