sábado, 11 de dezembro de 2010

EST'ÉTICA DA PSICANÁLISE

E ele disse:
"Estamos aproveitando este momento de comemoração do velho Freud (vocês sabem que insisto em reclamar o retorno de Freud, depois que Lacan tentou um retorno à Freud. Falo 'retorno de Freud' como se fala retorno do recalcado.
...re-ludir Freud. Tornar a brincar com os brinquedos do Freud, tão recalcados, tadinho, em tão pouco tempo), neste ano em que estou tentando essa faxina - como já disse num Seminário mais antigo, sou faxineiro, profissionalmente - tentando fazer uma limpeza do que é legado a nós por essa figura, e insistir o tempo todo na especificidade dessa prática, desse bem-dizer que Freud conseguiu. Precisamos insistir veementemente nisso.
Se há uma coisa que os ditos analistas não fazem - e isto é óbvio na história da psicanálise é insistir em ser freudianos.
Os analistas são pessoas muito envergonhadas, porque não fizeram análise. Se fizessem, não estavam assim. São pessoas extremamente envergonhadas diante dos cientistas, porque "não somos uma ciência". Aipim não é batata-doce e não reclama.
Vivem pedindo arrego à todo tipo de discurso.
Envergonhados de existir e de impor diante da sociedade uma posição específica de quem pensa com Freud, e não com Jesus Cristinho, não com Seu Marx, não com Dona Mariazinha.
Pensar com Freud, isto se recusam a fazer e morrem de vergonha e de medo de afirmá-lo.
(...)
A psicanálise tem que fazer suas provas: se não serve para nada, ponha-se no lixo.
...mas são incapazes (se não incompetentes) de defender a psicanálise no que ela tem de particular diante dos outros discursos".

MD Magno - Seminário de 1989.

Celan...ainda

"A arte paga o seu preço, o ser humano
não paga nenhum.
Vós sois pela liberdade da arte,
do ser humano
falais apenas sob
este signo.
E afinal
existe em todos nós
o mesmo Deus, feio-belo,
e verdadeiro".

Mais Celan

"Com o vento pelas costas
morro e apago-me
na grande monção
é então que verdadeiramente vivo".

A morte é uma flor - Paul Celan

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Poeminha Amoroso

Este é um poema de amor
tão meigo, tão terno, tão teu...
É uma oferenda aos teus momentos
de luta e de brisa e de céu...
E eu, quero te servir a poesia
numa concha azul do mar
ou numa cesta de flores do campo.
Talvez tu possas entender o meu amor.
Mas se isso não acontecer,
não importa.
Já está declarado e estampado
nas linhas e entrelinhas
deste pequeno poema,o verso;
o tão famoso e inesperado verso que
te deixará pasmo, surpreso, perplexo...
eu te amo, perdoa-me, eu te amo...

Cora Coralina

sábado, 28 de agosto de 2010

...e amanhã é domingo

Bom domingo para vocês.
Segunda-feira é um dia mais difícil porque é sempre a tentativa do começo de vida nova.
Façamos cada domingo de noite um réveillon modesto, pois se a meia-noite de domingo não é começo do Ano Novo, é começo de semana nova, o que significa fazer planos e fabricar sonhos.
Meus planos se resumem, para esta semana nova, em arrumar finalmente meus papéis, já que a governanta eu não vou ter mesmo.
Quanto aos sonhos desculpem, guardo-os para mim, como vocês guardam, com o olhar pensativo, de quem tem direito, os próprios.

Clarice Lispector (crônica).

A perfeição

O que me tranquiliza é que tudo o que existe, existe com uma precisão absoluta.
O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete não transborda nem uma fração de milímetro além do tamanho de uma cabeça de alfinete.
Tudo que existe é de uma grande exatidão.
Pena é que a maior parte do que existe com essa exatidão nos é tecnicamente invisível.
Apesar da verdade ser exata e clara em si própria, quando chega até nós se torna vaga pois é tecnicamente invisível.
O bom é que a verdade chega a nós como um sentido secreto das coisas.
Nós terminamos adivinhando, confusos, a perfeição.

Clarice Lispector - 'A descoberta do mundo' (livro de crônicas, pág. 155)

A partir de hoje...

...quero usar o meu blog para declarar o meu amor pela poesia, literatura, arte e psicanálise.
Quero dividir o meu prazer com as pessoas que, como eu, se deixaram capturar pelas descobertas inestimáveis de livros e autores que nos(e)levam às mais profundas reflexões; que nos acompanham nos momentos de falta e excesso.
Assim sendo, pretendo postar alguns dos textos de alguns escritores, não só os meus favoritos, mas os bons.
Assim começo por apresentar um pouco de Paul Celan e Lispector, a Grande Clarice...
Espero que gostem.

Silêncio!

Silêncio! Enterro o espinho no teu coração,
porque a rosa, a rosa
está com as sombras no espelho e sangra!
Já sangrava, quando nós misturámos o Sim e o Não,
quando o bebemos,
porque um copo, que caiu da mesa, tilintou:
repicou numa noite que escureceu durante mais tempo do que nós.

Bebemos com bocas ávidas:
sabia a fel,
no entanto espumava como vinho -
Eu segui o brilho dos teus olhos
a a língua balbuciou doçuras...
(E balbucia, balbucia ainda.)

Silêncio! O espinho penetra-te mais fundo no coração:
está unido com a rosa.

Paul Celan - 'Sete rosas mais tarde' (pág. 29)

Celan mais uma vez e sempre Celan

Durschs schüttelsieb schick idch den traum,
du fängst ihn auf, in Seelentellern
und setzt ihn der Speise zu,
die wir Ineinandergeknieten
verschmähen
müssen.

(27.12.1968)

Mando o sonho através do crivo vibrante,
tu apanhá-lo em pratos
da alma
e juntá-lo à refeição
que nós, os que ajoelham um dentro do outro,
temos de
desprezar.

'A morte é uma flor' Celan, pág.96/97.

(Tradução de João Barrento)

domingo, 25 de julho de 2010

Diálogo indígena

Três índios bolivianos, à beira do lago Titicaca, lá junto do céu, ao pé do pico de Illampu, a 6.550 metros de altura, encostados nas pedras, olhavam o infinito, e fumavam seus longos cigarros de folhas de coca.
Depois de horas de total silêncio, um deles falou:

- Vou comprar a General Motors, a Volkswagem, a Ford, a Fiat, a Mercedes Benz, a Toyota, e ser o maior industrial do ramo de automóveis do mundo...

Silêncio quase total, só quebrado pelo barulho do vento nas folhas das árvores.

O segundo índio, depois de longo tempo falou:

- Pois eu vou comprar o Banco Central dos Estados Unidos, o Banco Central da Inglaterra, o Banco Central da Alemanha, o Banco Central do Brasil, o Banco Central da Bolívia, todos os grandes bancos, e vou ser o maior banqueiro do mundo.

Então, depois de algum tempo o terceiro, que nada tinha falado, falou:

- Não vendo!

E os três continuaram calados...

Sobre Lou Andreas-Salomé

Em seu livro 'Lou Andreas-Salomé', o autor Stéphane Michaud é convidado a fazer um 'passeio' pela história de vida de Lou Andreas-Salomé, bem como pelos lugares onde ela andou, desvendando pouco a pouco o rico universo em que ela viveu.
Lou Andreas-Salomé, nasceu em São Petersburgo, no dia 12 de Fevereiro de 1861. Um ser contagiante, uma intelectual sedutora, uma grande ensaísta, uma das mulheres mais inteligentes, expressivas e avançadas da sua época.
Exuberante, forte, vigorosa, uma mulher excepcional, que amava a vida, e a vivia com total liberdade. Aliás, 'viver' era a palavra de ordem que a norteava. Usufruía a vida com ardor, e grande intensidade.
Ela nos chega através da literatura, do cinema, e da história da psicanálise.
Autora de muitos livros, entre romances, poesia, peças de teatro e ensaios, artigos e resenhas em revistas de filosofia e psicanálise.
Foi amiga de Freud e uma de suas principais colaboradoras. Freud gostava tanto de Lou que chegou a confiar-lhe a análise de sua filha Anna. Imaginem...
Ela foi a primeira mulher a frequentar o grupo de Viena, abraçando a causa psicanalítica desde os primeiros tempos, tornando-se a primeira psicanalista mulher.
Uma vez Freud escreveu-lhe: “Você tem um olhar como se fosse Natal”, quando falava-lhe de coisas “terríveis” acerca do psiquismo, e Lou não se abalava.
Quanto ao amor para Lou, este era sinónimo de libertação, vivendo-o de forma incomum. Era um ser invulgar nessa arte, como demonstra nessa citação: “O amor dos homens, por mais ilimitado que seja, necessita do apoio de um robusto amor-próprio, para deste modo poder extrair do tesouro de riquezas individuais, que sem dúvida possui, aquilo que pode dar aos outros..."
Era através do amor, da amizade, da poesia, da psicanálise que Lou recriava-se, ressignificava a sua vida, imprimindo mais humanidade a sua existência. Descobria outras possibilidades, fazendo desabrochar potencialidades, num movimento constante pela eterna busca de novas experiências, levando-a a grandes produções intelectuais, e a conhecer-se e reconhecer-se como mulher em toda a sua capacidade amorosa. Ela nunca sentiu medo de se conhecer melhor.
Podemos, portanto, afirmar que o amor, a arte, a poesia e a psicanálise foram as ferramentas básicas para que Lou se (re)editasse como mulher em toda a sua plenitude e força.
Sua trajectória aponta para uma mulher que sempre viveu à frente do seu tempo, e os seus textos revelam uma época em que pouco era permitido às mulheres. O estreito vínculo entre o erotismo e a criação, por exemplo, presente em tudo que criava, demonstrava o seu espírito inquieto e provocador. Para Lou, o estado mais próximo do erotismo, não é outro, senão o estado criador. “O êxtase estético deslizando para o êxtase erótico”.
Lou conviveu rodeada por homens, e embora convivendo com tantos, não menos exuberantes que ela, e por eles ter-se deixado encantar, à poucos entregou o seu amor. Na verdade, a sua biografia mostra que a sua única paixão, foi pelo poeta Rainer Maria Rilke, um jovem de 22 anos, quando Lou tinha 36.
Em 14 de maio de 1904, Rilke escreve a seu amigo Kappus uma carta que fala sobre o amor e a mulher:
“O amor de um ser humano por outro é talvez a experiência mais difícil para cada um de nós próprios, a obra absoluta em face da qual todas as outras são apenas ensaios...A mulher, que uma vida espontânea, mais produtiva, mais confiante habita, está sem dúvida mais próxima do humano do que o homem...
E estas palavras 'moça','mulher', não significarão apenas o contrário de 'homem', mas qualquer coisa de individual, valendo por si mesmo; não apenas um complemento, mas um modo completo da vida: a mulher na sua autêntica humanidade". (Poemas e Cartas a um Jovem Poeta)
Era, definitivamente, a confirmação da análise feita por Lou sobre àquele que seria, até a morte, o grande e verdadeiro amor de sua vida. Um ser único, onde a sensibilidade e o intelecto interagiam de forma perfeita.
Sua relação com Rilke se revelaria fecunda para ambos. Quando Lou escreve 'A humanidade da mulher' e 'Reflexões sobre o problema do amor' (1899 e 1900), ela está sob o impacto da intensa experiência amorosa que vivia então, e Rilke também cresce como poeta mergulhado que estava neste amor.
Até o fim de sua vida, Lou faria do poeta a principal razão do seu afecto.
Em sua biografia, fica claro que o que a significou foi a sua natureza apaixonada, independente; foi a sua capacidade de dialogicidade em pé de igualdade com qualquer homem do seu tempo, por isso também foi respeitada.
Mas há muito o que se falar sobre Lou, isso não se esgota, pois à medida que me envolvo na magia das transformações da Obra (Lou), surpreendo-me cada vez mais com a riqueza deste percurso, pautado pela sua experiência interior; pela sua disponibilidade interna de viver o amor sem se perder de si mesma, pelo que há de “Humano, demasiadamente humano” (Nietzsche) em sua história.
Lou é a obra de arte, enquanto tal, transformando e recriando o seu 'criador', tomando de assalto o lugar possível do analista, transformando-se nesse olhar, para além de tudo que há.
A história de vida de Lou Andreas-Salomé, despertou em mim, há algum tempo, um grande fascínio por essa personalidade tão marcante, impulsionando-me a percorrer este caminho literário, bebendo dessa fonte cristalina de um saber que jorra da alma, sem a menor pretensão em analisar e/ou fundamentar teoricamente o seu viver.
E assim, apenas com os sentidos, vou seguindo a trajectória de vida desta grande mulher, através dos seus livros, e que se fez presente, respeitada e admirada num universo historicamente de machos, “uma das raras analistas que não é nem judia nem médica”.
Enfim, sempre que a retomo, dispo-me de outros saberes adquiridos, para não fragmentar e/ou comprometer a abrangência desse material ‘vivo’, e fazê-lo perder a sua unidade.



Iara Lugatte

Carta a Lou Andréas-Salomé

"Mais je ne suis pas - en dépit
de tout ce que vous pourrez
dire - un artiste, je n'aurais jamais
pu 'rendre' des effets de lumière
et de coloris, mais uniquement
dessiner de durs contours".

Sigmund Freud

Apesar do nosso Mestre ter-nos oferecido duros contornos da alma humana, ele também nos acenou com a luz em todo o conteúdo da sua obra.
O mundo, certamente, teria outros contornos sem a Psicanálise.
Freud foi um dos maiores pensadores do século XX, sem dúvida, e continua a provocar reflexões profundas neste nosso século.

VIII dos Sonetos Ingleses

"Quantas - quantas sobrepostas máscaras usamos
Sobre a face de nossa alma? - e mais, quando
Se para seu bel-prazer, se a desmascaramos,
Sabe ela, sem a derradeira, sua face estar fitando?
A verdadeira máscara seu reverso não conhece;
Para fora apenas olham seus olhos mascarados;
Qual for o sentir ou consciência que comece,
Aceitar é já tê-los adormentados.
Como criança assustada de um espelho pela imagem
Crianças, almas nossas, de pensar perdido,
Outrem fingem criando um mundo esquecido.
E quando a alma mascarada um pensamento fosse desvelar
Nem ele mesmo vai desmascarado p'ra a desmascarar".

Fernando Pessoa

The light is dark enough

Primeiro Acto

"...não pode um homem saber
Como conduzir-se ante outro homem
Sem primeiro responder a certas questões de base.
Em que coisas escolheu crer? Que bem e mal
Conseguiu ele inventar para seu próprio uso?
Em resumo, como e que fez de si para existir?
Posto isto, então, o nó do problema
É simplesmente responder a isto:
Será que o seu existir está ou não de acordo
Com o bem e o mal que eu inventei para mim?
Mas, se assim é..."

Christopher Fry

terça-feira, 20 de julho de 2010

Pois é...

...cá estou eu novamente depois de um longo tempo vivendo uma espécie de 'hibernação intelectual', além das mudanças que a vida nos propõe, ou impõe?
E nesse contexto 'hibernante' retomei a poesia de Paul Celan, e um artigo do Freud com os meus caros alunos no nosso grupo de estudos que acontece de 15 em 15 dias no meu consultório na Figueira da Foz.
Trata-se do 'Mal estar na civilização' editado entre 1929/1930. Todo o texto é significativamente importante, e traduz o sofrimento e o desamparo do Homem de todos os séculos e séculos, amém. Praticamente 80 anos depois de escrito ele continua actual. Mas gostaria de centrar a minha reflexão sobre o que o nosso Mestre nos oferece no III capítulo sobre sofrimento e felicidade, já mencionado anteriormente no mesmo artigo:
"Até agora, nossa investigação sobre a felicidade não nos ensinou quase nada que já não pertença ao conhecimento comum. E, mesmo que passemos dela para o problema de saber por que é tão difícil para o homem ser feliz, parece que não há maior perspectiva de aprender algo novo".
Freud já havia dado a resposta, mas indica-nos as 3 fontes de que provém o nosso sofrimento:
- o poder superior da natureza
- a fragilidade de nossos próprios corpos
- e a inadequação das regras que procuram ajustar os relacionamentos mútuos dos seres humanos na família, no Estado e na sociedade.
Quanto ao poder superior da natureza e a fragilidade de nossos próprios corpos, teremos que admitir que estes se constituem fontes indiscutíveis de sofrimento. A natureza é soberana, indomável, poderosa, e o nosso corpo faz parte dessa natureza, e nada nos resta senão adaptarmos-nos e submetermos-nos a ela. Sem que, portanto, nos rendamos a nenhuma força que nos conduza a paralização das nossas actividades. É a nossa luta constante pelo não-sofrimento, que ao meu ver também nos causa grande sofrimento, pois não o podemos eliminar definitivamente, somente atenuá-lo.
Segundo Freud, a terceira fonte é a social do sofrimento e a atitude do homem frente a ela é diferente pois este não a admite. E reforça:
"Não admitimos de modo algum; não podemos perceber por que os regulamentos estabelecidos por nós mesmos não representam, ao contrário, proteção e benefício para cada um de nós. Contudo quando consideramos o quanto fomos mal sucedidos, exactamente nesse campo de prevenção do sofrimento, surge em nós a suspeita de que também aqui é possível jazer, por trás desse facto, uma parcela de natureza inconquistável - dessa vez, uma parcela de nossa própria constituição psíquica"
Para Freud este argumento acaba por sustentar a ideia de que a civilização possui uma parte significativa de responsabilidade na desgraça humana e que esta seria mais feliz se abandonasse e retornasse 'às condições primitivas'. Freud refere-se a isso como "argumento espantoso" pois 'todas as coisas que buscamos a fim de nos protegermos contra as ameaças oriundas das fontes de sofrimento, fazem parte dessa mesma civilização'. E questiona: "Como foi que tantas pessoas vieram a assumir essa estranha atitude de hostilidade para com a civilização?"
Afinal, continua Freud mais à frente: "Torna-se um louco alguém que, na maioria das vezes não encontra ninguém para ajudá-lo a tornar real o seu delírio".

sábado, 1 de maio de 2010

O perigo da história única

http://www.ted.com/talks/lang/por_pt/chimamanda_adichie_the_danger_of_a_single_story.html

sábado, 3 de abril de 2010

Jacques Brel



Jacques Brel é o autor de "Ne me quitte pas", canção interpretada pela cantora brasileira Maysa Matarazzo, entre outras(os).
Duas interpretações diferentes, porém magníficas.

Maysa Matarazzo

Chico e o fe-minino

Il y a longtemps que je t'aime

Sábado chuvoso, café com bolo quente de laranja...e um filminho para fechar o dia. "Il y a longtemps que je t'aime" de Phillipe Claudel. Intenso, delicado, humano.
Todo o filme é interessante, mas uma cena chama a atenção é quando a personagem Léa discute com um aluno e diz o seguinte:
"O que Dostoiévsky sabia de assassinatos? Nada! As obras primas são apenas hipóteses. São construções simplistas que não são nada comparadas à vida. Nada!" Pensemos!

terça-feira, 9 de março de 2010

Espaço aberto

Caríssimos,

Esse espaço está aberto para publicações dos amigos, sejam literárias, psicanalíticas, políticas, educativas, sociais...o que comparecer será bem-vindo.
Aguardo a colaboração de todos.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Mãe...só mãe

Mãe coruja, possessiva, super-protetora,
eu ouvia por onde passava.
Mas seguia em frente, feliz e realizada
com minha cria sob as asas.

Um dia a doutora dona Vida interpelou-me:
Mãe, disse ela, filhos não são para a senhora,
Está na hora de me entrega-los!

Atrás dela e junto com ela vinha Freud com
outros doutores e senhores do conhecimento.
Dedos em riste, testas franzidas, aguardavam
que eu acatasse e cumprisse o que ordenavam.

Junto comigo, e também atrás de mim,
quantas mães vi apertando os lábios e
os filhos contra seu regaço, assustadas
e pressionadas pela nova ordem das coisas.

Até então tinha sido diferente: Mães eram
reverenciadas como doadoras e mantenedoras
da vida, não como empecilho para a felicidade.

De repente, sem aviso, fomos arrancadas
de noite, encapuzadas, ainda adormecidas,
do pedestal para o patíbulo em praça publica.
E ninguém nunca nos explicou nada.

Nos diziam que o que tínhamos aprendido
com nossas avós, bisavós e ancestrais, tudo
à respeito da família e da maternidade,
estava errado. Era nocivo, perigoso e
tinha que ser extirpado da vida de todos.

E o que era então ser Mãe? Ninguém dizia.
Não sabiam do que isso se tratava,
desconheciam e não entendiam
o grande mistério da maternidade.

E assim a grande Mãe foi condenada:
em vez de guardiã da vida e da cria,
seu nome ganhou letra minúscula e
ela passou a ser vista e ouvida como
um mal necessário para a continuidade
da famigerada espécie e da sociedade.

E mandaram a mulher para o tanque
e depois lhe deram uma enceradeira,
eletrodomésticos modernos, portáteis e
o resto da história todo mundo conhece..

Mas o fato em si ninguém mudou,
apesar dos tubos de ensaio:
só acontece uma nova vida com
a associação do esperma e do óvulo
de um homem e de uma mulher.

E o útero não é só uma incubadora,
como querem alguns, é mais do que
isso, é um provedor inteligente e
incansável de calor, afeto e alimento.

Podem fazer bebês de proveta,
numa tentativa desesperada de
substituir a Mãe e driblar o
Milagre da criação. Podem.

Mas ali faltará com certeza o
Essencial, a corrente de amor
que flui, quando flui, da mãe
para o feto o tempo inteiro.

Amor que aconchega no desconforto
de começar a existir na existência,
na formação dolorida, com certeza,
dos tecidos , ossos, nervos e membros;
no primeiro movimento dos líquidos
circulando livre pelas novas veias .
E o coração, será que doe ou arde
quando bate pela primeira vez?
Ou assusta com seu barulho?

Ninguém se lembra como foi quando
seu pequeno braço começou a crescer.
Não tínhamos consciência alguém dirá,
e eu posso duvidar, será?
Não deve ser indolor vir a ser!
Como não é indolor nascer e crescer,
e como doe viver e morrer.

Mas o olhar materno, vigilante,
se mantém sobre o vivente,
como uma redoma invisível.
E o pequeno sabe, ele sente.
Mesmo inconsciente, corresponde
à proteção com confiança
e com gratidão, no começo.

Ah como é doce e gratificante
Dois bracinhos rodeando o pescoço
De alguém que cochicha : te amo Mãe..

E passam-se os dias, semanas,
meses , anos, até que um dia,
chega um novo tempo:
ele quer se libertar da dependência,
lhe dizem e ele reafirma irritado.
Concordamos todos, claro! É preciso
crescer, pensar com a própria cabeça !

E a Mãe que deu à Luz ,
(não é assim que se dizia no passado?)
aquele ser crescido em suas entranhas,
deve agora, humildemente e conformada,
retirar-se silente para a arquibancada.

De agora em diante, lhe ordenam:
assista daqui as proezas do seu filho,
mas sem interferir, apenas acompanhe.
E socorra, claro, quando necessário,
afinal, você é a mãe, lhe lembram!

Mas como é mesmo que é isso?
Se com um pedaço de unha se faz
uma magia que afeta uma pessoa,
se com um simples objeto seu, os
advinhos sabem o que aconteceu,
como que um pedaço da sua carne,
sangue, nervos e energia, que de
dentro de si se desprendeu, agora
não tem mais nada a ver consigo?

Só porque Freud e doutos senhores
concluíram que assim devia ser?
E outros, mais loucos ainda,
sentenciaram que era o único
caminho para nossa felicidade,
desvincularmo-nos de nossa origem,
como quem deixa casa, país, trabalho,
marido e muda de identidade.

Se as paredes de cimento guardam
registros e lembranças das dores
e alegrias daqueles que abrigaram,
que marcas terão aquelas do útero
que proveram e aconchegaram
o processo físico, emocional e mental,
sem falar na parte espiritual,
da criação de uma pessoinha?


Saiu o inquilino, a gente pinta e reforma
o ambiente e nem se lembra mais dele?
Não, isso só acontece com imóvel de aluguel!

Mas qualquer coisa feita com amor,
Suor e dor, fará parte intrínseca de nós,
como uma obra, um quadro, uma partitura.
E se essa obra ainda nos olha e chama Mãe!
Vibrando de carinho e necessidade do
nosso afeto, apoio, presença e calor,
desculpe-me a sociedade, a cultura,
a ciência e a psicanálise: não há
neste plano da existência , até agora,
recurso possível e eficiente para
desvincular essa mãe do filho,
por mais que queiram todos.

Filho só existe porque meu sangue,
meu oxigênio, meu organismo,
com todos os meus nutrientes,
hormônios, enzimas e líquidos
lhe abasteceram do necessário
para que sua forma se fizesse,
junto com sua Alma e sua Mente.
Por isso lhe chamo e sinto meu.

Este vínculo não é uma lenda, crença,
é físico, é quântico, é coisa visceral.

Não há separação possível,
nem na Vida, nem na Morte.
É para toda a eternidade.

Gilda Telles

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Tomara

Tomara
Que você volte depressa
Que você não se despeça
Nunca mais do meu carinho
E chore, se arrependa
E pense muito
Que é melhor se sofrer junto
Que viver feliz sozinho

Tomara
Que a tristeza te convença
Que a saudade não compensa
E que a ausência não dá paz

E o verdadeiro amor de quem se ama
Tece a mesma antiga trama
Que não se desfaz
E a coisa mais divina
Que há no mundo
É viver cada segundo
Como nunca mais.


Vinicius de Moraes

Cousas e coisas...

Gosto muito de poesia, e confesso que a poesia com as cores verde, amarelo, azul e branco causam-me um certo frisson, talvez pela distância das 'cousas' da minha terra sinto essas 'coisas' estranhas percorrendo o meu corpo, passando pelo meu coração em disparada, como num susto, e parando na garganta, como se um nó fosse. Alguém entende? Penso que sim.
Em 2007 fui presentada com um pequeno-grande livro com algumas poesias do nosso poetinha Vinícius de Moraes, editado em Portugal pela Arte Plural, intitulado 'O poeta não tem fim'. O livro é lindo, bem ilustrado, e todas as ilustrações fazem referência à minha terra.
Hoje, domingo chuvoso, sereno e preguiçoso (será que é o domingo ou sou eu?), ouvindo 'Chega de saudade' de/com Vinicius e Toquinho, fui até a estante em busca de Vinicius, ou seja, da sua poesia, e lá estava o seu 'auto-retrato' ao lado de uma foto das nossas jangadas. E assim Vinicius se define:

Auto-retrato

Nome: Vincius. Por quê? O Quo Vadis, saído em 13
Ano em que também nasci.
Sobrenome: de Moraes
De Pernambuco, Alagoas
E Baía (que guardo em mim).
Sou carioca da Gávea
Bairro amado, de onde nunca deveria ter saído.
Fui, sou e serei casado
E apesar do que se diz
Não me acho tão mau marido.
Filhos: três, e um a caminho
Altura: um metro e setenta
Meão, pois. O colarinho trinta e nove e o pé quarenta.
Peso: uns bons setenta e três (precisam ser reduzidos...)
Dizem-me poeta; diplomata
Eu o sou, e por concurso
Jornalista por prazer
Nisso tenho um grande orgulho
Breve serei cineasta (activo).
Sou materialista.
Deito mais tarde que devo, e acordo antes do que gosto.
Fui auxiliar de cartório, censor cinematográfico, funcionário (incompetente) do Instituto dos Bancários.
Actualmente sou segundo Secretário de Embaixada.
Formei-me em Direito, mas sem nunca ter feito prática.
Infância: pobre mas linda
Tão linda que mesmo longe continua em mim ainda.
Prefiro vitrola a rádio
Automóvel a trem, trem a navio, navio a avião (de que já tive um desastre).
Se voltasse a vida atrás gostaria de ser médico, pois sou um médico nato.
Minhas frutas predilectas, por ordem de preferência: caju, manga e abacaxi.
Foi com meu pai Clodoaldo de Moraes, poeta inédito, que aprendi a fazer versos (um dia furtei-lhe um para dar à namorada).
Tinha dezanove anos quando estreei com meu livro 'O caminho para a distância'. Meu preferido é o último: 'Poemas, sonetos e baladas'.
Toco violão, de ouvido, e faço sambas de bossa
Garoto, lutei jiu-jitsu razoavelmente. No tiro, sobretudo de carabina, sou quase perfeito.
As coisas que mais detesto: viagens, gente fiteira, fascistas, racistas, homem avarento ou grosseiro com mulher.
As coisas que mais gosto: mulher, mulher e mulher (com prioridade da minha), meus filhos e meus amigos.
Ajudo bastante em casa, pois sou um bom cozinheiro
Moro em Paris, mas não há nada como o Rio de Janeiro para me fazer feliz (e infeliz).
Desde os 7 anos venho fazendo versinhos
Gosto muito de beber, e bebo bem (hoje menos do que há dez anos atrás).
Minha bebida é o uísque com pouca água e muito gelo.
Gosto também de dançar, e creio ser essa coisa a que chamam de boémio.
Em Oxford, na Inglaterra, estudei Literatura Inglesa, que foi para mim fundamental.
Gostaria de morrer de repente, não mais que de repente, e se possível de morte bem natural.
E depois disso, ao amigo João Condé, nada mais digo.
(Poesia completa e prosa)


Bem, chega de saudade!

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Corpo em relação

‘O corpo em relação’ e o conto de Franz Kafka ‘A Metamorfose’


O conto “A Metamorfose” de Franz Kafka, publicado em 1915, surge num momento histórico importante vivido na Europa na época, momento que antecede a Primeira Grande Guerra, período da Belle Époque que surge em França no final do século XIX (1871), e que se estendeu pelas duas primeiras décadas do século XX. A popularidade das grandes descobertas tecnológicas e a sua aplicação na vida prática provocaram nas grandes capitais do mundo ocidental uma verdadeira euforia e transformaram por completo a vida dos cidadãos.
Foi um movimento libertário efervescente, de características essencialmente urbanas, que provocou grandes transformações culturais, intelectuais e artísticas que mudaram radicalmente o modo de pensar europeu. A Primeira Guerra Mundial veio, porém, pôr um termo quase absurdo a tamanha euforia. Obras literárias como Em busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust, A sinfonia, O Pássaro de Fogo de Stravinsky, o ensaio de Miguel de Unamuno O Sentimento Trágico da Vida e a Fenomenologia do filósofo alemão Edmund Husserl marcaram a Belle Époque.
Kafka insere-se neste movimento de inquietação provocado por tanta novidade e consegue com este surpreendente conto capturar a estética da sua própria interioridade, transformando-a numa espécie de referência para o próprio corpo que se metamorfoseia em busca do equilíbrio, que - através do insecto - lhe ‘en-ceta’ a transformação do corpo e da alma, expondo o seu estado verdadeiro, existencial, mergulhado numa crise de toda a ordem, retratando a época, bem como a sua desesperança, o seu pessimismo, e as suas angústias geradas pelas respostas que não obtinha quando se questionava sobre valores, ética e futuro. Como muitos intelectuais do seu tempo, ele que se exprimia numa língua que nem sequer era a da maioria dos seus compatriotas, que não tinha a certeza da continuidade da sua pátria nem da sua cultura, desligado do passado e sem rumo certo, teria que se transformar para continuar a viver num espaço de ninguém. Aqui, parece que Kafka e Gregor Samsa se misturam, e se fundem num só corpo numa só relação de surpresa, prazer e dor.
A sua obra nos mostra a solidão e o abandono do Homem abrigado num corpo que se transforma, e se assume numa relação com outro corpo asqueroso, que habita o imaginário do Homem como algo repugnante que nos causa medo e nojo, mas que acontece com a legítima aquiescência do ‘olhar do pai’ como um ‘espelho’ que lhe garante a sua existência, mas que numa atitude desesperada, de grande teor psicológico, tenta matar o filho, atirando-lhe algumas maçãs nas suas costas, reforçando a sua condição rebaixada na escala animal: a condição de insecto que se pode matar com um pequeno objecto.

“A maçã que ninguém se atreveu a retirar das costas de Gregor, permaneceu mergulhada na sua carne como uma recordação palpável,
e o grave ferimento que ele, havia já um mês, apresentava, lembrava ao pai que, apesar da sua triste e terrível transformação, Gregor continuava a ser, não obstante, um membro da família, não devendo ser tratado como um inimigo, pelo contrário, o dever exigia que aquele desgosto fosse esquecido e que se prestasse a Gregor todo o auxílio possível”. (Kafka, pag.91)

Gregor Samsa, caixeiro-viajante por imposição familiar, no seu total e absoluto desconforto frente à sua condição de dominado e explorado, diante do seu conformismo, transforma-se num gigante insecto de grande representatividade, por possuir um forte poder de sobrevivência, vivendo para a reprodução, tão somente, além de ser um dos mais antigos seres a habitar o planeta, muito antes do Homem e que lhe sobreviverá por muito tempo mais no planeta.
Numa passagem do livro (Kafka, pág.51), Gregor, insecto, fechado no seu quarto, excluído, espreita a família pelas fendas da porta e percebe que estão todos em silêncio e pensa que aquela vida tranquila da sua família fora proporcionada por ele, e se sente orgulhoso por ser o responsável pela placidez existente naquela “simpática” casa.
Neste ponto, a relação firma-se como desumana, pois o personagem apresenta-se absolutamente destituído da sua humanidade, e como tal, não consegue exprimir dor, angústia e agonia. Gregor é a expressão mais profunda da ‘alienação’.

“Que aconteceria, agora, se aquela paz, aquela satisfação, aquele bem- estar, acabassem em terror e catástrofe? A fim de dissipar tão sombrios pensamentos, Gregor começou a fazer pequenos exercícios, a rastejar para diante e para trás sobre o soalho”. (Kafka, pág. 51).

O personagem denuncia a alienação do Homem e a sua relação com o absurdo de um mundo cuja história ele não consegue enxergar nem controlar. Entretanto, só a morte de Gregor pode resgatar a sua humanidade, e libertar a todos, inclusive o próprio Gregor.
“O corpo de Gregor, com efeito, estava inteiramente chato e seco. Isso podia ser notado mais facilmente agora que ele não se apoiava nas pernas – e que nada havia para enganar o olhar”. (Kafka, pág. 124)

E uma das maçãs permaneceu no quarto de Gregor, apodrecida, até a sua morte.

“Mesmo a maçã apodrecida, cravada nas suas costas, agora já quase lhe não causava dor, nem sequer a inflamação que se estendera às partes adjacentes, que se achavam cobertas por uma ténue camada de pó, lhe produzia, naquele momento, qualquer mal estar”. (Kafka, pág. 121).

Gregor Samsa se transform num insecto, e permanece na mesma posição de alienado, numa postura de espectador do seu próprio absurdo, do seu infortúnio e da sua incapacidade de mudar o mundo e a história. A filosofia social europeia do tempo da Belle Époque tinha descoberto as obras de juventude de Karl Marx, sobretudo os manuscritos de 1844 e os textos filosóficos onde o comunismo era apresentado como um humanismo, o processo para superar todas as alienações. Mas Kafka desconhecia essa solução que tanto empolgou os jovens pensadores do seu tempo, e influenciou muitas gerações.

Referências bibliográficas

ABREU FREIRE, António (1973) Idéologie et Revolution dans les oeuvres de jeunesse de Marx , Descleée de Brower, Paris/Montréal.

KAFKA, Franz (2002). A Metamorfose, Ed. Livros do Brasil, Lisboa.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Fernando, o Sujeito...

"O abismo é o muro que tenho
Ser eu não tem um tamanho"

...Pessoa

Voltando

Retomo hoje o meu blog, depois de quase 2 meses ausente deste espaço.
Neste tempo, e espaço, dediquei-me a (re)leitura de alguns textos, alguns poéticos, outros nem tanto, e a alguns escritos.
Pretendo estar por aqui semanalmente, não mais que isso. Hoje quero mostrar-vos a poesia da minha amiga Gilda Telles que anda "poesiando" lá por Cunha. Eu diria 'borboletrando'.

Montanhas de Cunha

Montanhas verdes, redondas, silenciosas...
Imperiosas, absolutamente desconhecidas
Alheias, além, elas jazem lá, não cá
Não há como falar com elas, compreender seu estar
Nem pensar! Não se permite, e poucos tentam e
Logo se conformam com seu segredo...

Sempre o mistério da partida prematura,
Do rosto que se vira, da mão que se esquiva,
De novo. Da palavra atravessando o momento
Mistério seu, meu, nosso, do universo...

Os versos enrodilham meu coração ferido
Mais ou menos protegido ele foge da verdade,
Do adeus, do enigma, da saudade...
Aonde andará Carolina, minha filha amada?

Em que ponto do oceano inconsciente
Sua gota de consciência se integrou?
Sinto-a longe, mas próxima, como sempre.
Numa longa viagem, desafiante para ela e
Assustadoramente incompreensível para nós

Mas é quase como se eu visse, sem poder,
Sua essência se abrindo lentamente
Como uma semente, em direção à Luz
Da clareza que não temos. Nem podemos
Confio nela, confio na minha percepção,
Carolina, sábia menina, está lá e cá,
Assim como as montanhas de Cunha.