domingo, 17 de abril de 2011

Na vertigem do dia

Uma parte de mim é todo mundo, outra parte é ninguém: fundo sem fundo
Uma parte de mim é multidão, outra parte estranheza e solidão
Uma parte de mim pesa, pondera, outra parte delira
Uma parte de mim almoça e janta, outra parte se espanta
Uma parte de mim é permanente, outra parte se sabe de repente
Uma parte de mim é só vertigem, outra parte, linguagem
Traduzir uma parte na outra parte - que é uma questão de vida ou morte - será arte?

Ferreira Gullar

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Voltando...

Depois de alguns meses distante do meu blog, envolvida que estou com outros projectos, nomeadamente, o projecto da tese, quero voltar a escrever, a ler poesia, a assistir os filmes que gosto, a frequentar livrarias, a degustar um café com amigos, a trocar ideias com os meus filhos...a viajar.

Cordel

Eu comparo nossa vida
Com aquela dobra do "esse"
É uma ponta que sobe
E outra ponta que desce
E a volta que tem no meio
Nem todo mundo conhece.

Severino Pinto - Folheto de Cordel

O operário em construção

"Era ele que erguia casa
Onde antes só havia chão
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão
Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião".

Vinicius de Morais

Onde...

"O essencial é saber ver
Sem estar a pensar
Saber ver quando se vê
E nem pensar quando se vê
Nem ver quando se pensa".

Fernando Pessoa

O teu olhar

Quando fito o teu olhar
Duma tristeza fatal
Dum tão íntimo sonhar
Penso logo no luar
Bendito de Portugal!

O mesmo tom de tristeza
O mesmo vago sonhar
Que me traz a alma presa
Às festas da Natureza
E à doce luz desse olhar!

Se algum dia, por meu mal
A doce luz me faltar
Desse teu olhar ideal
Não se esqueça Portugal
De dizer ao seu luar

Que à noite, me vá depor
Na campa em que eu dormitar
Essa tristeza, essa dor
Essa amargura, esse amor
Que eu lia no teu olhar!

Florbela Espanca