terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Reflexão

Saber ouvir é uma arte
E um exercício de generosidade

domingo, 6 de dezembro de 2009

Paul Celan

A morte é uma flor que só se abre uma vez.
Mas quando abre, nada se abre com ela.
Abre sempre que quer, e fora da estação.

E vem, grande mariposa, adornando caules ondulantes.
Deixa-me ser o caule forte da sua alegria.

Artista plástico brasileiro, residente em Paris



Juarez Machado

O outro

Feridas mais fundas do que em mim
abriu em ti o silêncio,
estrelas maiores
enredam-te na rede dos seus olhares,
cinza mais branca
repousa sobre a palavra em que acreditaste.

Paul Celan

Elena...

Enquanto esperava pelo comboio para Montreux, Elena ia observando os passageiros que a rodeavam. Sempre que viajava, despertava nela aquela curiosidade, aquela esperança, aquela ansiedade que se costuma sentir no teatro ao subir do pano.
Descobriu um ou dois indivíduos com quem teria gostado de falar e perguntou a si própria se eles iriam apanhar o mesmo comboio que ela, ou se estariam ali só a acompanhar outros passageiros.
Os seus desejos eram vagos, impregnados de poesia. Se lhe perguntassem de chofre o que esperava, teria respondido: Le merveilleux.
Era um desejo que não se localizava em nenhuma parte do corpo. A reflexão que haviam feito acerca dela, num dia em que acabava de criticar um escritor que encontrara, era assaz verdadeira:
- "Você não é capaz de vê-lo como ele na realidade é, pois não é capaz de ver ninguém tal qual é. Ficará decepcionada, porque você está sempre a espera de alguém".
Sim, estava sempre à espera de alguém - todas as vezes que a porta se abria, todas as vezes que ia a uma soirée, a uma reunião, todas as vezes que entrava num café, num teatro...
Nenhum dos indivíduos que ela escolhera para companheiro ideal de viagem subiu para o comboio.

Anaïs Nin

A cobra e o pirilampo

Era uma vez uma cobra que começou a perseguir um pirilampo. Ele fugia com medo da feroz predadora, mas a cobra não desistia.
Um dia, já sem forças, o pirilampo parou e disse à cobra:
- Posso fazer três perguntas?
- Podes. Não costumo abrir esse precedente, mas já que te vou comer, podes perguntar.
- Pertenço à tua cadeia alimentar?
- Não.
- Fiz-te alguma coisa?
- Não.
- Então porquê é que me queres comer?
- Por que não suporto ver-te brilhar!!!

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

O MÁGICO E O CAMUNDONGO

Diz uma antiga fábula que um camundongo vivia angustiado com medo do gato.

Um mágico teve pena dele e o transformou em gato.
Mas aí ele ficou com medo de cão, por isso o mágico o transformou em pantera.

Então ele começou a temer os caçadores.

A essa altura o mágico desistiu. Transformou-o em camundongo novamente e disse:

-Nada que eu faça por você vai ajuda-lo, porque você tem apenas a coragem de um camundongo. É preciso coragem para romper com o projecto que nos é imposto. Mas saiba que coragem não é a ausência do medo, é sim a capacidade de avançar, apesar do medo, caminhar para frente, e enfrentar as adversidades, vencendo os medos...

Carlos Drumond de Andrade, poeta brasileiro -1902-1987

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.
Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.

Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.

Drumond

...a onça

Pense bem: não cutuque a onça com vara nenhuma.

A psicanálise morreu? Para quem?

Em relação às constantes declarações de que a 'psicanálise está morta', eu poderia seguir o exemplo de Mark Twain, que, tendo lido num jornal o anúncio da sua morte, dirigiu ao director do mesmo um telegrama comunicando-lhe: "a notícia de minha morte está muito exagerada".

Sigmund Freud in Alain de Mijolla.

E assim é.

Comunicação verbal e não-verbal

"Nenhum mortal pode guardar um segredo.
Sua boca permanece em silêncio, falarão as pontas de seus dedos..."

Freud (Caso Dora)