domingo, 9 de outubro de 2011

Clarice Lispector

"Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso.
Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro".
Clarice Lispector

domingo, 18 de setembro de 2011

Cantando sobre os ossos - Clarissa Pinkola Estés

Ao ler a introdução de 'Mulheres que correm com lobos' da psicóloga junguiana e contadora de histórias Clarissa Pinkola Estés que nos apresenta neste livro, resultado de 20 anos de pesquisa sobre a psique feminina, e do arquétipo da mulher selvagem que busca o conhecimento da alma no seu mais puro estado que lemos nos contos de fadas e nos mitos, penso no lugar que escolhemos ocupar dentro da nossa pobre cultura ocidental que nos consome e é consumida por nós. Onde estará a nossa Mulher Selvagem, intuitiva, protetora, valente...? É óbvio que a autora não agradará a gregos e romanos, mas parece-me interessante o que ela diz, mesmo que controverso para alguns.
É dessa Mulher Selvagem que Clarissa nos fala:
"A natureza selvagem não exige que a mulher tenha uma cor determinada, uma instrução determinada, estilo de vida ou classe econômica determinados. Na realidade, ela não consegue vicejar na atmosfera imposta do 'politicamente correto', ou quando é forçada a se amoldar a velhos paradigmas obsoletos. Ela viceja em visões novas e integridade individual. Ela viceja com sua própria natureza.
(...)
Para encontrar a Mulher Selvagem é necessário que as mulheres se voltem para suas vidas instintivas, sua sabedoria mais profunda. Portanto, vamos nos apressar agora e trazer nossas lembranças de volta ao espírito da Mulher Selvagem.
Vamos cantar sua carne de volta aos nossos ossos.
Despir quaisquer mantos falsos que tenhamos recebido.
Assumir o manto verdadeiro do poder do conhecimento e do instinto.
Invadir os terrenos psíquicos que nos pertenceram um dia.
Desfraldar as faixas, preparar a cura.
Voltemos agora, mulheres selvagens, a uivar, rir e cantar para Aquela que nos ama tanto.
Para nós, a questão é simples: sem nós, a Mulher Selvagem morre; sem a Mulher Selvagem, nós morremos.
Para a verdadeira vida, ambas têm de existir".

Conto sobre o sábio Nasrudin.

O seu vizinho tinha vindo pedir-lhe que lhe emprestasse o burro para puxar pelo arado durante aquele fim-de-semana. O cavalo dele tinha se ferido numa pata, e não podia esperar que se curasse. Far-lhe-ia esse favor?
Nasrudin sorriu, e com muita gentileza, disse-lhe que emprestaria com todo o prazer, mas, lamentavelmente, o burro tinha sido levado pelo seu irmão para o campo dele e não estava ali.
E estava Nasrudin a dizer-lhe quanto o lamentava quando, atrás dele, se ouviu "com força e clareza" o relincho do burro a pedir comida.
- O senhor mentiu-me - acusou o vizinho. Se não mo queria emprestar, devia ter dito que não mo queria emprestar e não inventar que não o tinha.
- Mas é que não o tenho - insistiu Nasrudin.
- Como é que me pode dizer que ele não está aqui se o estou a ouvir relinchar!
- Perdão, vizinho, está a ofender-me...Vem pedir-me uma coisa emprestada e depois acontece que acredita mais num burro do que em mim...Senhor, vamos ficar por aqui. Adeus.

Texto de Marcela Cochrane, 23 anos.

Amorzes... to muito sensível essa semana. Acho que é a TPM...hahaha
Escrevi isso pra vocês. Não copiei da internet, nem roubei idéias... apenas me senti na obrigação de escrever o que precisava tirar do meu coração e dividir com vocês... então peço, por favor, que vocês leiam.
Apenas leiam... sem pressa. E sem compromisso. Quem quiser responder, vou amar. Quem não quiser, peço pra que guarde com carinho...

Aos meus amores...
Hoje acordei batendo cabeça, arrumando um jeito de não ser brega, nem dramática, nem muito sentimental, nem muito clichê. Pensando num jeito de mostrar o quanto cada um faz diferença na minha vida. “Felicidade é só questão de ser”... sim, mas felicidade também é uma questão de ter.
E ao perder algo tão importante na minha vida, eu abri meus olhos pro mundo. Não acho que tenha negligenciado nada. Não me arrependo de nada que fiz, das coisas que abri mão, de cada segundo que vivi. E que foi tão especial. Contudo, pra cada escolha, uma renúncia. Não abri mão dos meus amigos, não abri mão da minha vida. Não por completo. Mas abri mão de alguns detalhes, porque convinha fazê-lo. Porque me fez bem... e faria tudo de novo. Do mesmo jeito.

Tem pessoas que passam na nossa vida por um único dia, ou nem isso, mas que nos transformam pra sempre. E tem me incomodado o fato de não dizer a cada uma delas a importância que têm na minha vida. Algumas que te tocam com palavras, outras com sorrisos, outras com olhares, umas que te ajudam, outras que precisam da sua ajuda... cada uma de forma diferente e única. Tem algumas que você, sem querer, deixa sair da sua vida... e quando quer de volta talvez não seja mais o tempo delas... outras voltam, porque a vida te devolve. Algumas são eternas... outras não precisam ser eternas, mas em determinado momento foram as mais importantes pra você. E acabam ficando pra sempre.
Pra quem não queria ser sentimental, dramática, brega ou clichê, eu to tudo junto e misturado! Que coisa cafona... hahaha
Para os que têm estado ao meu lado em minha trajetória, sabem que passei por momentos difíceis. Para os que não me vêem há tempos, estão sabendo agora!!rs

Apenas para esclarecimento, isso não é um desabafo. É um agradecimento. Acho que muitas vezes não cuidamos das pessoas como deveríamos. Não damos o devido valor. E meu objetivo aqui é apenas ressaltar que eu não sou nada sem vocês. Minha história seria vazia sem cada um de vocês. Eu não teria os valores que tenho, não seria tão feliz como sou hoje.
Até tenho me culpado por não estar tão triste com as coisas que aconteceram. Pois é... a felicidade tá falando mais alto. Ela tá gritando!! Porque vocês estão me mostrando que pra ser feliz basta querer e se deixar levar... que posso cuidar de mim sem precisar de ninguém. É querer ter alguém... e jamais precisar de alguém. Poderia dizer que preciso de vocês (quem não precisa?), mas o querer ter vocês é mais forte.

Peço desculpa aos que tenho alugado, peço desculpa aos que deixei passar, peço desculpa aos que não soube cuidar e dar o devido valor. desculpas por não ter dado confiança, por não ter quebrado regras, por não ter correspondido. Agradeço aos que não julgaram (ou julgam), aos que me escutam falar a mesma coisa mais de um milhão de vezes e que sempre me confortam e fortalecem. Agradeço aos que perceberam que eu nunca fecho portas, apenas encosto... e que por isso voltaram pra mim. Aos que tiveram paciência pra minha falta de paciência. E peço aos que ainda não voltaram que pensem nessa possibilidade. O mundo transforma a gente. Erros que cometemos no passado às vezes ainda machucam... mas às vezes são tão pequenos que quando paramos pra ver o porquê das coisas achamos até graça... e não entendemos mais nada. A vida está aí pra ser vivida. Intensamente!!!!

E ela corre... e da mesma forma que ela nos oferece um milhão de coisas, ela nos tira meio milhão de coisas... e é exatamente por isso que eu não quero perder mais nada. E perder a chance de falar isso pra vocês me enfraqueceria e me faria alguém mais triste. Eu não me sentiria tão completa.

Eu poderia ter escolhido um texto pronto, pensado em algum gênio, que emocionaria qualquer um... afinal de contas, quem não se emociona lendo Vinicius de Moraes quando diz: “Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos. Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles. (...) A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. (...)E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, (...) Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles. (...) Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente, os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos! A gente não faz amigos, reconhece-os.”
Quase coloquei inteiro... para os interessados, mestre Google pode ajudar! Eu preferi ser eu mesma... falar por mim.

A vocês, amores da minha vida, o maior e mais sincero agradecimento por absolutamente tudo! Aos que se distanciaram, por favor... voltem, ou n=me guardem com carinho (se fiz algo, não foi por mal). Aos que estão chegando agora, sejam muito bem vindos. E não se assustem, não sou do tipo que manda isso toda semana, com recadinhos melo-dramáticos, musiquinhas e purpurinas. Não tenho muita paciência pra isso, nem pra escrever... não tenho paciência pra muitas coisas, como a maioria de vocês sabe muito bem! Hahahaha

Só queria que soubessem o quanto AMO vocês. E amo minha vida, única e exclusivamente porque vocês me ensinaram a amá-la.

(Não se sintam na obrigação de retribuir nada. Apenas continuem existindo.)

Agora vou deixar Drummond terminar por mim...rs

“Eterno é tudo aquilo que dura uma fração de segundos, mas com tamanha intensidade, que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata.”

MUITO obrigada por tudo. Por existirem.

Beijos.

Cecela

P.S. Gostei do texto, bem escrito, maduro, sensível...e com a autorização da autora publico-o aqui.

Sobre a educação da escritora Lya Luft.

Autor: Lya Luft
Veja - 12/09/2011


Há quem diga que sou otimista demais. Há quem diga que sou pessimista. Talvez eu apenas tente ser uma observadora habitante deste planeta, deste país. Uma colunista com temas repetidos, ah, sim, os que me impactam mais, os que me preocupam mais, às vezes os que me encantam particularmente. Uma das grandes preocupações de qualquer ser pensante por aqui é a educação. Fala-se muito, grita-se, escreve-se, haja teorias e reclamações. Ação? Muito pouca, que eu perceba. Os males foram-se acumulando de tal jeito que é difícil reorganizar o caos.

Há coisa de trinta anos, eu ainda professora universitária, recebíamos as primeiras levas de alunos saídos de escolas enfraquecidas pelas providências negativas: tiraram um ano de estudo da meninada, tiraram latim, tiraram francês, foram tirando a seriedade, o trabalho: era a moda do "aprender brincando". Nada de esforço, punição nem pensar, portanto recompensas perderam o sentido. Contaram-me recentemente que em muitas escolas não se deve mais falar em "reprovação, reprovado", pois isso pode traumatizar o aluno, marcá-lo desfavoravelmente. Então, por que estudar, por que lutar, por que tentar?

De todos os modos facilitamos a vida dos estudantes, deixando-os cada vez mais despreparados para a vida e o mercado de trabalho. Empresas reclamam da dificuldade de encontrar mão de obra qualificada, médicos e advogados quase não sabem escrever, alunos de universidade têm problemas para articular o pensamento, para argumentar, para escrever o que pensam. São, de certa forma, analfabetos. Aliás, o analfabetismo devasta este país. Não é alfabetizado quem sabe assinar o nome, mas quem o sabe assinar embaixo de um texto que leu e entendeu. Portanto, a porcentagem de alfabetizados é incrivelmente baixa.


Agora sai na imprensa um relatório alarmante. Metade das crianças brasileiras na terceira série do elementar não sabe ler nem escrever. Não entende para o que serve a pontuação num texto. Não sabe ler horas e minutos num relógio, não sabe que centímetro é uma medida de comprimento. Quase metade dos mais adiantados escreve mal, lê mal, quase 60% têm dificuldades graves com números. Grande contingente de jovens chega às universidades sem saber redigir um texto simples, pois não sabem pensar, muito menos expressar-se por escrito. Parafraseando um especialista, estamos produzindo estudantes analfabetos.

Naturalmente, a boa ou razoável escolarização é muito maior em escolas particulares: professores menos mal pagos, instalações melhores, algum livro na biblioteca, crianças mais bem alimentadas e saudáveis – pois o Estado não cumpre seu papel de garantir a todo cidadão (especialmente a criança) a necessária condição de saúde, moradia e alimentação.

Faxinar a miséria, louvável desejo da nossa presidente, é essencial para a nossa dignidade. Faxinar a ignorância – que é outra forma de miséria – exigiria que nos orçamentes da União e dos estados a educação, como a saúde, tivesse uma posição privilegiada. Não há dinheiro, dizem. Mas políticos aumentam seus salários de maneira vergonhosa, a coisa pública gasta nem se sabe direito onde, enquanto preparamos gerações de ignorantes, criados sem limite, nada lhes é exigido, devem aprender brincando. Não lhes impuseram a mais elementar disciplina, como se não soubéssemos que escola, família, a vida sobretudo, se constroem em parte de erro e acerto, e esforço. Mas, se não podemos reprovar os alunos, se não temos mesas e cadeiras confortáveis e teto sólido sobre nossa cabeça nas salas de aula, como exigir aplicação, esforço, disciplina e limites, para o natural crescimento de cada um?

Cansei de falas grandiloquentes sobre educação, enquanto não se faz quase nada. Falar já gastou, já cansou, já desiludiu, já perdeu a graça. Precisamos de atos e fatos, orçamentos em que educação e saúde (para poder ir à escola, prestar atenção, estudar, render e crescer) tenham um peso considerável: fora disso, não haverá solução. A educação brasileira continuará, como agora, escandalosamente reprovada.

domingo, 17 de abril de 2011

Na vertigem do dia

Uma parte de mim é todo mundo, outra parte é ninguém: fundo sem fundo
Uma parte de mim é multidão, outra parte estranheza e solidão
Uma parte de mim pesa, pondera, outra parte delira
Uma parte de mim almoça e janta, outra parte se espanta
Uma parte de mim é permanente, outra parte se sabe de repente
Uma parte de mim é só vertigem, outra parte, linguagem
Traduzir uma parte na outra parte - que é uma questão de vida ou morte - será arte?

Ferreira Gullar

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Voltando...

Depois de alguns meses distante do meu blog, envolvida que estou com outros projectos, nomeadamente, o projecto da tese, quero voltar a escrever, a ler poesia, a assistir os filmes que gosto, a frequentar livrarias, a degustar um café com amigos, a trocar ideias com os meus filhos...a viajar.

Cordel

Eu comparo nossa vida
Com aquela dobra do "esse"
É uma ponta que sobe
E outra ponta que desce
E a volta que tem no meio
Nem todo mundo conhece.

Severino Pinto - Folheto de Cordel

O operário em construção

"Era ele que erguia casa
Onde antes só havia chão
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão
Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião".

Vinicius de Morais

Onde...

"O essencial é saber ver
Sem estar a pensar
Saber ver quando se vê
E nem pensar quando se vê
Nem ver quando se pensa".

Fernando Pessoa

O teu olhar

Quando fito o teu olhar
Duma tristeza fatal
Dum tão íntimo sonhar
Penso logo no luar
Bendito de Portugal!

O mesmo tom de tristeza
O mesmo vago sonhar
Que me traz a alma presa
Às festas da Natureza
E à doce luz desse olhar!

Se algum dia, por meu mal
A doce luz me faltar
Desse teu olhar ideal
Não se esqueça Portugal
De dizer ao seu luar

Que à noite, me vá depor
Na campa em que eu dormitar
Essa tristeza, essa dor
Essa amargura, esse amor
Que eu lia no teu olhar!

Florbela Espanca