domingo, 6 de dezembro de 2009

Elena...

Enquanto esperava pelo comboio para Montreux, Elena ia observando os passageiros que a rodeavam. Sempre que viajava, despertava nela aquela curiosidade, aquela esperança, aquela ansiedade que se costuma sentir no teatro ao subir do pano.
Descobriu um ou dois indivíduos com quem teria gostado de falar e perguntou a si própria se eles iriam apanhar o mesmo comboio que ela, ou se estariam ali só a acompanhar outros passageiros.
Os seus desejos eram vagos, impregnados de poesia. Se lhe perguntassem de chofre o que esperava, teria respondido: Le merveilleux.
Era um desejo que não se localizava em nenhuma parte do corpo. A reflexão que haviam feito acerca dela, num dia em que acabava de criticar um escritor que encontrara, era assaz verdadeira:
- "Você não é capaz de vê-lo como ele na realidade é, pois não é capaz de ver ninguém tal qual é. Ficará decepcionada, porque você está sempre a espera de alguém".
Sim, estava sempre à espera de alguém - todas as vezes que a porta se abria, todas as vezes que ia a uma soirée, a uma reunião, todas as vezes que entrava num café, num teatro...
Nenhum dos indivíduos que ela escolhera para companheiro ideal de viagem subiu para o comboio.

Anaïs Nin

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