Hoje acordei pensando na cáustica e melancólica poesia de Augusto dos Anjos, brasileiro, poeta e professor. E matutei comigo mesma 'parece que em algum lugar Anjos e Pessoa - O Fernando, se encontram, se conectam. Corrijam-me, por favor, os entendidos em anjos e pessoa, mas ambos apresentam uma linguagem orgânica que nos leva a perplexidade'.
Levantei-me, e fui até a estante buscar pela poesia que me faltava naquele instante, e lá estava ela, em forma de livro, capa preta, esperando para ser lida, e absorvida pelos meus sentidos: Eu, e outras poesias. Pronto aqui tens a intimidade desses versos, foi a minha escolha, e quero partilhá-la.
Versos íntimos
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro da tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável
Mora entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga
Apedreja essa mão vil que te afaga
Escarra nessa boca que te beija!
Augusto dos Anjos (20 de Abril de 1884 - 12 de Novembro de 1914)
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