domingo, 27 de setembro de 2009

Versos íntimos

Hoje acordei pensando na cáustica e melancólica poesia de Augusto dos Anjos, brasileiro, poeta e professor. E matutei comigo mesma 'parece que em algum lugar Anjos e Pessoa - O Fernando, se encontram, se conectam. Corrijam-me, por favor, os entendidos em anjos e pessoa, mas ambos apresentam uma linguagem orgânica que nos leva a perplexidade'.

Levantei-me, e fui até a estante buscar pela poesia que me faltava naquele instante, e lá estava ela, em forma de livro, capa preta, esperando para ser lida, e absorvida pelos meus sentidos: Eu, e outras poesias. Pronto aqui tens a intimidade desses versos, foi a minha escolha, e quero partilhá-la.


Versos íntimos


Vês! Ninguém assistiu ao formidável

Enterro da tua última quimera.

Somente a Ingratidão - esta pantera -

Foi tua companheira inseparável!


Acostuma-te à lama que te espera!

O Homem, que, nesta terra miserável

Mora entre feras, sente inevitável

Necessidade de também ser fera.


Toma um fósforo. Acende teu cigarro!

O beijo, amigo, é a véspera do escarro

A mão que afaga é a mesma que apedreja.


Se a alguém causa inda pena a tua chaga

Apedreja essa mão vil que te afaga

Escarra nessa boca que te beija!


Augusto dos Anjos (20 de Abril de 1884 - 12 de Novembro de 1914)



Sem comentários:

Enviar um comentário